O QUE É UM VAZAMENTO DE DADOS?
O vazamento de dados corresponde a um incidente de segurança em que dados pessoais são expostos publicamente sem que haja o consentimento do titular, podendo afetar não só o próprio titular de tais dados, como a entidade que os possui.
Quando
ocorre um vazamento de dados, determinadas informações podem ser consultadas, copiadas
e comercializadas para diversos propósitos indesejados. Além de sua utilização
para fins comerciais, existe o grave risco de se praticar golpes financeiros,
extorsões e tentativas de se prejudicar negócios e a imagem de empresas.
Os
riscos do vazamento de dados podem ser dimensionados não só por sua massa, ou seja,
o volume de dados ou titulares expostos, mas também pelos impactos financeiros que
tal situação ocasionou a empresa detentora. Estamos falando não só dos dados
pessoais que uma empresa possui de terceiros, mas também de informações tidas
em segredo comercial e industrial dela mesma.
Destarte,
não há dúvidas que tal situação corrobora também com a prática da famosa engenharia
social para se obter vantagens ilícitas em face ou em nome do titular dos dados,
favorecendo assim o êxito em golpes e crimes relacionados.
Em
nota, a engenharia social tem por base a interação humana, no qual o infrator
manipula psicologicamente a vítima para que ela execute ações ou lhe exponha
informações privilegiadas. Prática bastante conhecida, mas que por explorar
vulnerabilidades emocionais, técnicas ou mesmo por despertar a curiosidade ou a
vaidade do indivíduo, se mostram, infelizmente, muito eficazes àqueles de
má-fé.
É comum ouvir dizer: “mas eu não sou tão importante para que queiram saber meus dados pessoais”. Neste contexto, quantos de vocês já não sofreram a tentativa de golpes oriundos da obtenção de dados e o uso da engenharia social, ou mesmo quantas pessoas vocês conhecem que já passaram pela mesma situação? Seja pela clonagem de cartões de crédito, compras indesejadas na Internet, a posse de acesso em aplicativos de mensagens, redes sociais, tentativas de estelionato, fraudes, ameaças, entre tantos outros. Sim, pessoas comuns cada vez mais podem sofrer danos oriundos da má utilização de dados pessoais e o uso da engenharia social.
Ainda
que na prática o titular tenha pouco a fazer frente ao vazamento de dados por
instituições em que depositou sua confiança, deve haver a plena consciência dos
riscos e das medidas cabíveis caso isso ocorra.
Neste
ponto, matéria divulgada pela ABRANET (Associação Brasileira de Internet) em
novembro/2020, diz que num ranking de 50 países, o Brasil teve a posição 42ª,
no que tange educação digital em cibersegurança[1].
Neste
estudo se avaliou o nível de conhecimento atual sobre riscos cibernéticos de populações,
bem como a relevância de iniciativas para promover a educação e o treinamento
deste tipo de risco. Veja os critérios avaliados: a motivação da população em
geral em termos de boas práticas de segurança cibernética; políticas públicas
para melhorar o conhecimento em riscos cibernéticos; como os sistemas
educacionais abordam o tema; as estratégias das empresas para melhorar as
habilidades em riscos cibernéticos de seus funcionários; e a inclusão digital
da população, principalmente os mais vulneráveis à esses riscos como os idosos.
Dentre os países avaliados, a Suíça, Cingapura, Reino Unido, Austrália,
Holanda, Canadá, Estônia, Israel, Irlanda e Estados Unidos lideraram o ranking
com as melhores pontuações.
Todavia,
pode-se dizer que a preocupação com a privacidade de dados é um tema que vem evoluindo
em nosso país, e espera-se que cada vez mais as pessoas se conscientizem que vivemos
na era da informação e que dados pessoais hoje são valiosos e deve ser assegurados.
Pesquisa
realizada pelo MIT - Massachusetts Institute of Technology e publicada pela
empresa Abril em fevereiro/2021, discorre que os vazamentos de dados aumentaram
em 493% no Brasil, ao passo que no ano de 2019 mais de 205 milhões de dados
vazaram de forma criminosa[2].
Em
mesma notícia baseada em relatório feito pela empresa de segurança Kaspersky,
relata-se que dentro da América Latina[3], o
Brasil é o país com mais tentativas de ataques cibernéticos, seguido pelo
México. Já no ranking global o Brasil chega a ser o 7ª no que tange a ataques à
segurança pessoal ou financeira do indivíduo. Mesma pesquisa realizada no
período de jul/2018 a jul/2019, demonstra que 45 tentativas ataques são
bloqueadas a cada segundo na América Latina.
Neste
contexto, a própria legislação vem buscando se adequar a nova realidade, no
Brasil podemos citar algumas leis importantes, entre elas o Marco Civil da
Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados, na qual tem por objeto trazer
diretrizes no que versa o tratamento de dados, bem como mecanismos e sanções
para que organizações zelem pela segurança de dados pessoais.
Ressaltando-se
que em caso de qualquer incidente de segurança que envolva dados pessoais, o
controlador deve analisar brevemente os riscos da situação, ao passo que,
dependendo da gravidade, deve comunicar em tempo hábil a Autoridade Nacional de
Proteção de Dados - ANPD.
Veja
que é muito comum que ataques maliciosos que envolvam ameaças a divulgação de
dados pessoais obtidos por empresas, tenham como foco a exigência de pagamentos
para que tal ação não seja executada (chamado de Ataque de Resgate). Situação
que muitas vezes são acobertadas pelas companhias sem chegar ao conhecimento público
ou de agentes regulatórios.
Nesta
esteira, recentemente notícias relatam que uma das maiores redes de medicina
diagnóstica do país, o Grupo Fleury (220 unidades de atendimento e mais de 10
mil funcionários), sofreu um ataque cibernético com pedido de resgate em 5 milhões
para que dados da empresa não fossem divulgados. O que acarretou a
indisponibilidade de serviços por alguns dias e trouxe graves prejuízos a
empresa[4].
Este
caso possui um agravante, a companhia atacada faz o tratamento de dados
pessoais sensíveis, haja vista que detém informações da saúde dos pacientes que
contratam seus serviços, o que requer um cuidado e tratamento especial aos
olhos da LGPD.
Hoje
o investimento em segurança da informação deve ser uma prioridade nas empresas,
lembrando aqui os conceitos de Privacy by Design e Privacy by Default, que
trata sobre a adoção de medidas de segurança, técnicas e processuais,
realizadas desde a concepção de um projeto.
Pode-se
dizer que quanto maior o volume de dados pessoais que uma empresa detém, maior será
o seu poder no mercado, assim como maior deve ser sua preocupação e tomada de
medidas para conter a possibilidade de vazamentos.
Matéria
veiculada na Forbes em novembro/2020 diz que para 2022 a previsão de gastos em
segurança cibernética pode chegar a 133,7 bilhões no mundo todo, enquanto os
danos causados por crimes digitais podem atingir 6 trilhões ao ano até 2021[5].
A
seguir disponibilizamos algumas matérias que relatam substanciais vazamentos de
dados sofridos nos últimos anos:
Em
suma, a proteção de dados pessoais é um tema que cada vez mais vem ganhando
destaque, exigindo que empresas invistam em processos internos e estejam sempre
atualizadas para que se evite o vazamento de dados pessoais.
A
proteção de dados pessoais é uma pauta mundial, sendo um movimento global a
realização de negócios com países que possuem como bandeira tal prerrogativa
protecionista, ao passo que a Lei Geral de Proteção de Dados foi um marco
importante para se regulamentar o tratamento de dados no Brasil e fomentar as
melhores práticas de segurança no tratamento de dados.
Autora desde artigo: Nadya Prinet Godoy
Disponibilizado em: Jun/2021
Photo by Markus Spiske on Unsplash
[1] ABRANET.
Educação Digital. Disponível em: https://www.abranet.org.br/Noticias/Brasil-fracassa-em-ranking-global-de-educacao-digital-em-ciberseguranca-3183.html?UserActiveTemplate=site&UserActiveTemplate=mobile#.YNY_gOhKjIU.
Acesso em: 25 de jun. de 2021.
[4] TERRA. Grupo Fleury. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/tecnologia/fleury-e-alvo-do-ransomware-revil-e-pacientes-ficam-sem-acesso-a-exames,f9be7dfc47529429fa2c558ea66642806fxvcsm3.html. Acesso em: 25 de jun. de 2021.
[5]
FORBES. Cibersegurança. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2020/11/ciberseguranca-entenda-os-perigos-do-ambiente-digital/.
Acesso em: 25 de jun. de 2021.
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